MINISTÉRIO DA ARTE - Por Domingos de Oliveira






07-05-2010 ////////
MINISTÉRIO DA ARTE
DOMINGOS DE OLIVEIRA

“Eu não sei o que é o amor. Mas se vejo um bom filme sobre o amor, aí eu sei o que é o amor. Não sei o que é a guerra. Mas se eu vejo um bom filme de guerra, eu sei o que é a guerra. Não sei bem o que é um girassol, flor estranha e amarela. Mas quando eu vejo um girassol que Van Gogh pintou, aí eu sei o que é um girassol. Não é preciso entender da vida para compreender a Arte. É preciso entender a Arte para saber da vida.”

Existem idéias deletérias que são extremamente difundidas. Uma delas é achar que o julgamento da Arte é subjetivo. Que considerar um filme ou uma peça uma obra de arte é questão de gosto. Isto não é verdade. É uma mentira deslavada e indecente. Os artistas, as crianças e os apaixonados, os inocentes e, porque não dizê-lo, aqueles que foram dotados de verdadeira inteligência... Estes sabem perfeitamente o que é a Arte e o que não é.
No início, era um divertimento. Divertir-se é necessário. A rotina enlouquece. Porém, nessa matéria, muitas atividades ganham do show business. Futebol, carnaval, as mais variadas festas, etc. Uma obrigação sagrada do Poder público é acessar ao cidadão seu divertimento.
Depois (ou terá sido antes?) surgiu uma coisa chamada Arte. Note-se que isso tudo aconteceu em tempos imemoriais. Pertence à essência da humanidade. A Arte, desde as mãos impressas na parede da caverna até o melhor filme da semana passada, apareceu com um poder novo tão ou mais essencial que o divertimento. A Arte ensina aos homens o que é a vida. Ela elogia e exalta as melhores capacidades do ser humano. A honestidade, a espiritualidade, a cidadania, etc. É a Arte que defende as grandes idéias que construíram a civilização humana. A ética, o amor e o pertencimento, etc.

No início, a Arte foi sustentada pelos reis e imperadores. Eles não puderam deixar de perceber que aquilo melhorava o caráter dos homens. Tornava-os mais inteligentes e produtivos, o que era uma coisa justificável em si. Como dizia, rugindo, o leão da Metro: “Ars gratia Artis”, “Arte pela Arte”. No passar geral dos séculos, o entretenimento descobriu que, se ele contivesse arte, seria mais rentável. E aí apareceram as indústrias de cinema, os empresários de teatro, do livro, da música e etc. Creio que foi um acidente de percurso. A Arte, dada sua notória e singular importância, não deve depender do mercado para existir.

Li recentemente que o diretor do departamento cultural da Inglaterra esteve no Brasil e disse coisas surpreendentes de tão óbvias. Coisas que mostram o quanto nos desgarramos, talvez irreversivelmente, do caminho certo. Disse, por exemplo, que deveríamos voltar ao Ministério da Educação e Cultura, posto que essas duas idéias estão ligadas: “Pela simples razão de que você só pode esperar o desenvolvimento cultural de uma sociedade se isso vier acompanhado de uma educação eficaz, que desperte, nas crianças, a apreciação pela arte.” E, igualmente: “É claro que vemos a cultura como algo, por si, importante, mas consideramos natural trabalhar em conjunto com nossos colegas da educação. Só assim conseguimos envolver as crianças em nossos projetos...” ( continua no link abaixo para quem quiser ler mais).

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